Este artigo explora uma abordagem interdisciplinar que integra historiografia, musicologia, iconografia e computação de movimento para investigar as interações entre música, corpo e representação visual. Introduz o conceito de “iconografia incorporada”, que busca interpretar imagens históricas não apenas como documentos visuais, mas como vestígios das dinâmicas corporais e musicais dos contextos em que foram criadas. A partir da análise de posturas corporais em representações iconográficas do século XIX relacionadas à capoeira e sua comparação com gravações de movimento contemporâneas, o estudo revela como os corpos representados nas imagens podem refletir práticas musicais e coreográficas complexas, exibindo as distorções do discurso colonial. Ao relacionar dados históricos e tecnológicos, o estudo destaca a importância dos estudos sobre a corporeidade na reconstrução de contextos culturais e contribui para a descolonização dos estudos historiográficos e musicológicos, oferecendo novas perspectivas sobre as práticas culturais afro-brasileiras.

https://periodicos.ufrn.br/artresearchjournal/article/view/33192

Palavras-chave: corpo; iconografia; diáspora africana; movimento humano; capoeira.

O que é iconografia incorporada?

A “iconografia incorporada” é um conceito que busca interpretar imagens históricas de forma a entender não apenas o conteúdo visual explícito, mas também os aspectos corporais, musicais e culturais implícitos nelas. Esse conceito propõe que as imagens possam ser vistas como vestígios das dinâmicas corporais e musicais dos contextos em que foram criadas. Em vez de ver as representações visuais apenas como documentos estáticos, a iconografia incorporada tenta recuperar as interações corporais e coreográficas que essas imagens podem sugerir.

No estudo de caso da capoeira, por ejemplo, a iconografia incorporada usa imagens de posturas e gestos corporais retratados no século XIX para comparar com movimentos capturados de capoeiristas contemporâneos. Isso permite que as imagens sejam analisadas como “documentos musicais” que carregam aspectos da prática cultural, permitindo uma leitura que considera o movimento, a música e as posturas dos corpos ali representados. Essa abordagem permite acessar uma camada mais profunda de significado, onde o corpo representado na imagem se torna um canal de interpretação de contextos culturais e musicais passados.

Conceitos importantes desenvolvidos no artigo

1. Iconografía incrustada: Abordagem que interpreta imagens históricas como registros de dinâmicas corporais e musicais.

2. Corporeidade: Análise do corpo como elemento central na reconstrução de contextos culturais e musicais.

3. Descolonização: Revisão crítica dos estudos históricos e musicais para superar distorções do olhar colonial.

4. Interdisciplinaridade: Integração de história, música, arte e tecnologia para entender melhor a relação entre corpo e cultura.

Luiz Naveda, Universidad de Minas Gerais (UEMG)

Luiz Naveda é doutor em Ciências da Arte (2011, Ghent University), mestre em Música pela UFMG e bacharel em Música (violão) pela UEMG. Professor permanente da Universidade do Estado de Minas Gerais e do Programa de Pós-graduação em Artes da mesma instituição, Naveda dedica-se à investigação das relações entre dança, música e representações visuais, com ênfase nas humanidades digitais. Sua pesquisa combina métodos de recuperação de dados musicais (MIR), análise de movimento e abordagens das ciências cognitivas para explorar a intersecção entre corpo, música e iconografia, especialmente em contextos afro-brasileiros como a capoeira. Além de sua atuação acadêmica, é performer, compositor e designer, criando trilhas sonoras, instalações e multimídia para espetáculos e projetos de arte digital. Atualmente, coordena o grupo de pesquisa Corpuslab, onde explora as relações entre corpo, música e tecnologia no contexto das artes.

loque Arcángel, Universidad de Minas Gerais (UEMG)

Loque Arcanjo Junior é doutor e mestre em História Social da Cultura pela UFMG, com especialização em História da Cultura e da Arte. Realizou pós-doutorado em Música e Cultura pela Escola de Música da UFMG. Atualmente, é coordenador do Programa de Pós-Graduação em Artes e professor do Departamento de Teoria Musical da UEMG, onde desenvolve pesquisas nas áreas de Música e História. Vinculado aos grupos de pesquisa PAMVILLA (ECA/USP) e Corpuslab (UEMG), também atua em conselhos e comitês da UEMG. Coordena projetos financiados pelo CNPq sobre música afro-brasileira e a internacionalização da obra de Villa-Lobos. É autor de livros sobre Villa-Lobos e música brasileira, incluindoA Genialidade de Villa-Lobos (2022), As Identidades Musicais de Heitor Villa-Lobos (2016), miO ritmo da mistura e o compasso da História (2008). Leciona disciplinas como História da Arte, História da Música Brasileira e Antropologia Cultural.